terça-feira, 29 de setembro de 2009

Som caipira com selo acadêmico - Gillian Welch

Quando ouvi pela primeira vez o álbum Time (The Revelator), da cantora e compositora Gillian Welch, não consegui decifrar o que tinha de tão diferente nas canções, pois no fim das contas, você não espera nada muito surpreendente de um disco de country rural a não serem boas melodias acompanhadas do típico som do Banjo.

Depois de uma breve pesquisa, comecei a contextualizar a obra de Gillian Welch. Essa talentosa compositora cursou a universidade de música em Berkley, e provavelmente foi lá onde adquiriu as ferramentas necessárias para construir com maestria melodias que não podem ser classificadas simplesmente como música country. Ainda nos tempos de estudante, Gillian conheceu o violonista David Rawlings, com quem começou a compor e se apresentar em bares ao redor da faculdade.

Essa parceria rendeu um contrato com uma gravadora e, logo no primeiro trabalho do duo, o álbum Revival, já recebeu uma indicação ao Grammy na categoria “Melhor álbum de Folk Contemporâneo do ano de 1997”. Gillian também participou da trilha sonora do divertidíssimo filme dos irmãos Coen “E Aí, Meu Irmão, Cadê Você?” com as canções Didn't Leave Nobody But the Baby e I'll Fly Away.

Já os arranjos de David Rawlings são fundamentais à obra. O seu domínio do instrumento é tão impressionante, que é capaz de tocar notas nitidamente fora da escala e conseguir um efeito incrível como na música título do álbum:




Time (The Revelator) agrada aos fãs de música caipira, além de ser capaz de conquistar um novo leque de fãs para o gênero.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Terence Blanchard – SESC Pompéia – 10/09/09

Show é um excelente programa! Morando em Curitiba ficou mais dificil, pq as opções são limitadíssimas, mas mesmo assim ainda não perdi o habito de ver o Guia da Folha, Rolling Stone, Bravo e etc... sempre tentando me antecipar a algum evento e conciliar a agenda.

Nessas, fiquei sabendo que Terence Blanchard, trompetista americano, ia tocar em São Paulo numa data que eu estaria presente.

Bom, quem curte jazz e afins sabe que não tem erro... pra esse tipo de evento: ou paga caro e vai no Bourbon, ou compra rápido (com um pouco de sorte) e vai no Sesc Pompéia!
Tava com sorte, comprei e sucesso! Nem conhecia muito... mas nao tinha erro. sabia q ia ser bom!

PAUSA
Sempre curti os filmes do Spike Lee! E sempre reparei na trilha sonora. Tem até um filme dele que fala de jazz, e da vida de musico e tal. Chama “Mo’Better Blues” (Mais e Melhores Blues), com o Denzel Washington, Wesley Snipes (td muleque ainda) e o próprio Spike atuando. A canção que dá nome ao filme é fenomenal!

PLAY
Quem é que compôs a maioria das trilhas para os filmes do Spike Lee??????
Ele mesmo!

Ah ... o show!

Bacana! Começou muito cerebral demais. Muito conceitual, ritmo quebrado, difícil de acompanhar... Rolavam umas falas entre uma musica e outra, trechos de conversas, parada meio maluca (comento melhor depois). Mas de qq maneira, dava pra notar que o quinteto era competente.

O baixista, nigeriano, abriu o show, tocava sorrindo, figuraça! Sax e bateria tb mandavam bem.
No piano rola um destaque. Cubano, Fabian Almazan, habilidoso, toca igual aquele muleque do Snoopy (Schroeder é o nome dele), todo curvado, com a cabeça enterrada no piano. Vem na minha, daqui um tempo vc vai ouvir falar desse cara.

O Terence é o front-man. Eleito pela Downbeat como artista do ano e melhor trompetista em 2000. Dita o ritmo, conduz o time. Compôs a maioria das canções.

Os pontos altos do show foram os temas “Winding Roads”, mais clássico lembra bastante as trilhas feitas para os filmes do Spike (alias, isso e uma característica marcante do cara, possui um modo de compor bastante particular), e “A New World”, bem groovy, bastante ritmo, o pianao do cubano tem uma levada fera.

Um pouco mais do Terence: começou tocando com o Lionel Hampton (primeiro CD de jazz que eu comprei – vibrafonista – bebop rasgado!) e com o Art Blakey (batera fodido!) nos anos 80.
Engajado, desde 2000, é diretor artistico do “Thelonious Monk Institute of Jazz”, um instituto sem fins lucrativos (fundado pelo próprio Thelonious – outro monstro) que organiza programas de educação musical em escolas públicas dos EUA.

Mudou-se para New Orleans após a tragédia provocada pelo Katrina e lá dirige o Thelonious Monk Institute of Jazz. Fez tudo para conseguir transferir a sede do instituto pra lá (antes ficava em Los Angeles) e foi incentivado por Herbie Hancock - o pianista considera New Orleans o berço e a alma musical dos EUA. Lá, Blanchard, ficou amigo do professor de religião e filósofo Cornel West, ativista político e autor do livro "Race Matters", cuja voz é ouvida no show.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Briga de Irmãos

Em agosto deste ano a polêmica banda inglesa Oasis teve seu fim anunciado pelo compositor, guitarrista e vocalista, Noel Gallagher.

Sim, todos sabem que não é a primeira vez em que o grupo anuncia uma separação e depois retorna aos estúdios e palcos como se nada tivesse acontecido, porém agora, parece que a eterna rixa entre os irmãos Gallaghers colocou, mesmo, um ponto final na banda.

Segundo declaração de Noel, seria impossível continuar trabalhando ao lado de Liam, seu irmão caçula e vocalista da banda, por mais um dia sequer. Uma pena para aqueles que, como eu, apreciam o som da banda, mas verdade seja dita, esses egos inflamados já deram o que tinham que dar!

Não estou dizendo que o fim do Oasis seja bom, longe disso, mas era algo que mais cedo ou mais tarde aconteceria. Talvez a decisão tenha sido a mais sábia, já que a banda, apesar dos chiliques e destemperos, continua saboreando o sucesso e, até a data do anúncio, era capaz de compor hits.

Ainda não é certo que o Oasis seja extinto, já que Liam pretende dar continuidade, mas que Noel não pretende encarar o maninho tão cedo, isso é fato. Em minha humilde e bastante particular opinião, a situação complica para o Oasis, pois sempre considerei as composições de Noel infinitamente superiores às de Liam e, principalmente, seu vocal mais agradável. Espero que ele não suma.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

U2 – No Line on the Horizon

Apesar de não ser grande fã da banda irlandesa U2, preciso admitir que respeito o trabalho do grupo e que, de fato, em seus mais de 20 anos de existência, muitos hits marcaram sua passagem pela indústria musical assim como a vida de muitas pessoas.

Porém em seu 12º álbum, No Line on the Horizon, considerado por um de seus produtores como um trabalho que revolucionaria mais uma vez o rock, ainda não consegui encontrar os traços marcantes do vocal de Bono e tampouco os riffs bem elaborados do guitarrista The Edge, me levando a questionar... Será que a banda perdeu a mão?

Nem mesmo a música homônima e primeira faixa se salva. Com notas batidas e timbres sem sal, é apenas mais uma que integra um extenso trabalho carente de criatividade. Dizem os boatos que isso se deve ao fato de que as composições foram realizadas na guitarra ao invés do piano, sem contar que durante sua gravação, a mais longa da história da banda, o U2 chegou a arquivar o material e a trocar seu produtor.

Ainda assim, o álbum vendeu mais de 500 mil cópias ao redor do mundo e há quem o defenda ferrenhamente, feitos que, particularmente, atribuo aos contínuos sucessos da banda como War (1983), The Joshua Tree (1987) e Rattle and Hum (1988) que garantiram à banda uma legião fiel de fãs, porque este trabalho por si só, não garante grandes multidões à turnê que está por vir.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Sax + Argentina... mas surpreende

Caros, segue mais um post do nosso ilustre convidado, o Alemão.

Se o instrumento te remete ao Kenny G, com aquele “riffizinho” safado e grudento e, na música, o país só te faz lembrar do Tango (aliás, no futuro vale um post do Gotan!), dê uma chance para esse Gato...

Calma meninão... O nome do figura é Gato Barbieri, nascido em 1932, e o cara adorava o Brasil... Na verdade, ainda adora, porque ele tá vivo, só que não grava nada já faz tempo.

Esse amigo do Schelotto estraçalhava o instrumento! Tocava de um jeito diferente, autoral e bastante particular! Mais ou menos assim... Se o Eric Clapton ou o Mark Knopfler mandarem um “Parabéns pra Você” na guitarra, você reconheceria na hora! Bem nessa linha é o Gato com o Sax.

Começou no instrumento com um estilo mais clássico, depois morou na Itália por causa da mulher e passou pelo jazz avant-garde (sei lá o que é isso!), mas o negócio fica bom mesmo quando ele encontra o jazz latin, entre as décadas de 1960 e 1970.

Vale tentar ouvir as faixas “Encontros”, “Latino America” e “Yesterdays”, que são pedradas cheias de suingue, igual ao japa que tocava lá no Moai!

E eu falei que ele curtia a terra brasilis... Até soa meio clichê, mas o cara gravou “Aquarela do Brasil” e “Carinhoso”, do Pixinguinha, que aliás ficou bem legal, com uma pegada toda diferente!
Na linha das baladas, bonito pacas, tem o tema “Milonga Triste”, além dessa aqui do link abaixo, que lá em 1972 fez o cara ganhar fama:



Trilha do filme “Last Tango in Paris” do Bernardo Bertolucci - na real, nem conheço o filme, mas a canção, meu querido, é feríssima!

Não sou o maior entusiasta, nem conheço a técnica desse instrumento, só sei que esse argentino assopra diferente!

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Receita para um bom seriado - Violência gratuita, motos e uma trilha matadora


Para um seriado tornar-se sucesso de público é necessário reunir bons atores, bom enredo, bons diálogos e, é claro, uma trilha sonora impecável para embalar as cenas e os espectadores.

Dos mesmos criadores de Sopranos e The Shield, a série Sons of Anarchy (2008), de Kurt Sutter, está no caminho certo. Não nego que a princípio torci o nariz para esta série dramática cuja trama aborda um grupo de motoqueiros fora da lei de uma pacata cidadezinha, mas felizmente assumo meu equívoco.

Com história dinâmica e cheia de ação, enredo muito bem amarrado e elenco repleto de talentos como Ron Perlman (Hellboy), Katey Sagal (a eterna Peggy de Married with Children) Tommy Flanagan (Gladiador) e Charlie Hunnam (Hooligans), SOA me surpreendeu, mas é sua trilha sonora que merece o maior destaque.

Bastante diversificada, traz artistas das mais variadas frentes, passeando por gêneros como country rock, heavy metal e gospel. Entre eles estão The Lions, Sun Kill Moon, Gia Ciambottie, Campanas de America, Loonie Brooks, Big George Jackson, Fu Manchu e até a atriz Katey Sagal com interpretação da música “Son of a Precher Man”.

Definitivamente a série meio “Bang Bang”, conquistou lugar cativo. Para quem quiser ouvir as músicas que compõem sua trilha sonora e saber um pouco mais a respeito, acesse o site http://fxnetworks.com/shows/originals/soa/

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Para ver e ouvir – I’m not there


O longa-metragem I’m Not There (2007), biografia cinematográfica de Bob Dylan, é um prato cheio para os fãs de trilhas sonoras.

A história, escrita e dirigida por Todd Haynes, retrata seis faces da vida do cantor e compositor Folk e, apesar do esmero do elenco de peso (Richard Gere, Cate Blanchett, Christian Bale, Ben Whishaw, Marcus Carl Franklin e Heath Ledger), ficou um tanto estranha e até mesmo desconexa para quem não conhece a conturbada existência de Dylan.

Apesar das diversas indicações recebidas, em minha opinião o grande trunfo do longa pertence à sua trilha sonora. Não é segredo que diversos artistas já regravaram clássicos de Dylan ao longo de seus mais de 30 anos de carreira, mas nunca existiu um registro tão bem feito quanto este. Para ter uma idéia; EddieVedder, Sonic Youth, Jim James, Calexico, Iron and Wine, Cat Power, Richie Havens, Stephen Malkmus, Yo La Tengo, Mark Lanegan e Willie Nelson são alguns dos artistas que integram este impressionante set.

O filme pode não ter agradado muito, mas definitivamente é um excelente álbum duplo com mais de 30 versões do enigmático Bob Dylan, que por um bom tempo renderá muitos comentários.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Stebmo - “jazzão” moderno

Caros, esse é o primeiro post de um grande amigo meu, o Alemão. O cara se interessa muito por ritmos como o Jazz, Funk, Soul e experimental. Espero que curtam os comentários e aguardem os próximos.

Tô lá eu na Livraria Cultura, no meio dos CDs, dando uma olhada na coisa toda, sem procurar nada em especial, mas louco pra encontrar algo... E me deparei com isto aqui:


Capa estranha, nunca ouvi falar, ala de jazz... Deve ser bom!

Pianão meio melancólico (aliás, dizem que eu gosto de música triste... Discordo) e bateria nervosa, essa é a base do negócio.

Mas o lance todo é muito rico em detalhes, às vezes tem guitarra, às vezes sintetizador, o trombone dá uma passada, tem até vibrafone fazendo participação especial. Cada vez que você escuta, descobre uma coisa nova.

Dá uma olhada na definição da Revista Free Jazz, Abr.08: “This is gentle music, intimate and calm, but combining joyful and playful elements with dark and menacing background harmonies or sounds.”. Oh loco! Tudo isso!

Comentando um pouco as faixas, “Waiting Game” abre o trabalho. Começa densa, aí entra uma guitarra rasgada e fica tudo meio bagunçado. Aí vem a melhor do disco, “Blind Ross”. A levada do piano têm um puta groove sensacional! Em “Holding Pattern” é incrível a conversa entre o piano e a bateria. “Dark Circles” é pesadona do começo ao fim, e tem um trombone que dá uma quebrada interessante. “Majika” e “Tough Luck” são temas muito bonitos, bem melódicos.

Todas as composições são do Steve Moore, que é o próprio Stebmo, o cara é de Seattle e esse é o primeiro CD dele (homônimo). Lançado no começo de 2008, é muito elogiado, com direito a nota no NY Times e tudo o mais.

É um “jazzão” moderno, bebe um pouco da fonte do rock, é instrumental, diferente, caprichado! Vale à pena!